Não é simpática?

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domingo, 9 de novembro de 2014

Sobre onda conservadora


Creio que é necessário, mais do que lamentar-se pela concreta e real eleição de um parlamento ultrarreacionário, refletir sobre que via nos levou a essa situação, para que possamos pensar em, talvez, sair dela.

"O reformismo é a antessala do fascismo, não do socialismo"

Essa máxima, expressa em um documentário recente produzido por um partido comunista chileno sobre a queda de Allende, reflete uma tese clássica do pensamento marxista sobre a ascensão de governos e tendências fascistas: elas são fruto, em grande parte, da falta de alternativas colocadas pelas lideranças sociais-democratas anteriores.

No caso brasileiro, é válido pensar dessa forma. Porém, é preciso levar em conta que existem especificidades colocadas. Alguns pontos a se considerar são:

1 - A estratégia petista se alça no "acúmulo de forças" institucional como maneira de conduzir à realização de reformas estruturais que melhorem as condições de vida das massas trabalhadoras. Esse acúmulo de forças passa por um leque de alianças que, na trajetória petista, foi se abrindo mais e mais - a ponto de abrigar sob sua asa os setores mais reacionários da política nacional, como a bancada fundamentalista e setores do agronegócio e do latifúndio.

2 - Apesar da fraseologia oca dos governos petistas de que a crise de 2008 não chegou ao Brasil (e, de certa forma, realmente não atingiu o país com a mesma intensidade que em outros locais), as consequências do fim da crise também foram aqui sentidas: aqui também, os trabalhadores pagaram a conta. Basta ver, por exemplo, que na tão alardeada política de "valorização do salário mínimo" do governo, o ano de 2011 teve o dado mais enxuto: o ganho foi de 0,37%¹. E no mais, a crise mundial do capital foi (foi, não é) mundial (ora porra!), e portanto atingiu a todos os países do Globo (até a China). Assim sendo, o avanço do pensamento reacionário não é apenas nacional, mas mundial: Brasil, França, Grécia (essa contando com um vertiginoso e feliz crescimento paralelo do movimento operário) e Ucrânia, essa última contando inclusive com um governo de extrema-direita.

3 - Se existe alguma reviravolta proveniente da contrarrevolução internacional (eufemisticamente substituída pelas expressões "queda do muro" ou "desintegração da URSS") essa reviravolta é extremamente negativa. Isso se reflete, claramente, no movimento operário, em cujo seio as ideias revolucionárias entraram em crises e foram jogadas à escanteio. O proletariado brasileiro, porém, se levantava enquanto o restante do proletariado mundial saía de cena. A consolidação de um projeto que se apegou à institucionalidade é a expressão político-teórica de um proletariado que empunhava sozinho a bandeira vermelha do trabalho. A devir-morte desse projeto não pode levar senão à crise de tudo que é progressista, à reedição a nível nacional da contrarrevolução internacional: mais uma vez, a história acaba e é hora de dar adeus ao proletariado. Ele deve sair de cena, pois mostrou-se incapaz de nos conduzir senão à barbárie.


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