Creio que é necessário, mais do que lamentar-se pela concreta
e real eleição de um parlamento ultrarreacionário, refletir sobre que via nos
levou a essa situação, para que possamos pensar em, talvez, sair dela.
"O reformismo é a antessala do fascismo, não do
socialismo"
Essa máxima, expressa em um documentário recente produzido
por um partido comunista chileno sobre a queda de Allende, reflete uma tese
clássica do pensamento marxista sobre a ascensão de governos e tendências
fascistas: elas são fruto, em grande parte, da falta de alternativas colocadas
pelas lideranças sociais-democratas anteriores.
No caso brasileiro, é válido pensar dessa forma. Porém, é
preciso levar em conta que existem especificidades colocadas. Alguns pontos a
se considerar são:
1 - A estratégia petista se alça no "acúmulo de
forças" institucional como maneira de conduzir à realização de reformas
estruturais que melhorem as condições de vida das massas trabalhadoras. Esse
acúmulo de forças passa por um leque de alianças que, na trajetória petista,
foi se abrindo mais e mais - a ponto de abrigar sob sua asa os setores mais
reacionários da política nacional, como a bancada fundamentalista e setores do
agronegócio e do latifúndio.
2 - Apesar da fraseologia oca dos governos petistas de que a
crise de 2008 não chegou ao Brasil (e, de certa forma, realmente não atingiu o
país com a mesma intensidade que em outros locais), as consequências do fim da
crise também foram aqui sentidas: aqui também, os trabalhadores pagaram a
conta. Basta ver, por exemplo, que na tão alardeada política de
"valorização do salário mínimo" do governo, o ano de 2011 teve o dado
mais enxuto: o ganho foi de 0,37%¹. E no mais, a crise mundial do capital foi
(foi, não é) mundial (ora porra!), e portanto atingiu a todos os países do
Globo (até a China). Assim sendo, o avanço do pensamento reacionário não é
apenas nacional, mas mundial: Brasil, França, Grécia (essa contando com um
vertiginoso e feliz crescimento paralelo do movimento operário) e Ucrânia, essa
última contando inclusive com um governo de extrema-direita.
3 - Se existe alguma
reviravolta proveniente da contrarrevolução internacional (eufemisticamente
substituída pelas expressões "queda do muro" ou "desintegração
da URSS") essa reviravolta é extremamente negativa. Isso se reflete,
claramente, no movimento operário, em cujo seio as ideias revolucionárias
entraram em crises e foram jogadas à escanteio. O proletariado brasileiro,
porém, se levantava enquanto o restante do proletariado mundial saía de cena. A
consolidação de um projeto que se apegou à institucionalidade é a expressão
político-teórica de um proletariado que empunhava sozinho a bandeira vermelha
do trabalho. A devir-morte desse projeto não pode levar senão à crise de tudo
que é progressista, à reedição a nível nacional da contrarrevolução
internacional: mais uma vez, a história acaba e é hora de dar adeus ao
proletariado. Ele deve sair de cena, pois mostrou-se incapaz de nos conduzir
senão à barbárie.
¹Em
2002, fim do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o mínimo valia R$ 200.
De lá para cá houve um aumento real de 72,35%, frente a um reajuste nominal de
262% (sem descontar a inflação). O ano de maior aumento real foi 2006,
justamente o primeiro
após a nova política de valorização do mínimo, com avanço de 13,04%. Desta vez,
o reajuste será bem menos significativo, 1,18%, segundo resultado mais baixo em
governos do PT – superado por 2011, quando o ganho foi de 0,37%.
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